Fui um rio de água doce
Vindo de várias vertentes
Minha principal nascente
É na pedra da batateira
Em toda minha ribeira
Já reguei muitos cultivos
Desde os povos primitivos
Que aqui já habitavam
Sua sede eu saciava
Por diversas gerações
Hoje estou degradado
Me chamam Rio Salgado
Um nome por tradição
Já fui um rio perene
Da foz até a nascente
Com minhas águas correntes
Borbulhante e cristalina
Em meu leito se destina
Indo ao encontro dos mares
Minhas matas ciliares
Ao longo me protegiam
Flores e frutos cresciam
Sempre ao alcance das mãos
Mas nunca fui preservado
Me chamam Rio Salgado
Um nome por tradição
Em nome de um tal progresso
Desmataram minhas nascentes
O impacto deste modelo
Permanece indiferente
Meu leito foi soterrado
Meus poços assoreados
Por entulho e veneno
Meus peixes foram morrendo
Pássaros desaparecendo
Num processo de extinção
Sempre fui ignorado
Me chamam Rio Salgado
Um nome por tradição
Grandes populações
habitaram as minhas margens
ofereci água pura
e muitos recursos saldáveis
Me devolveram esgotos,
lixo e poluição
Com tanta destruição
Me transformaram em deserto
E fizeram do meu leito
Uma fossa a céu aberto
Não posso me defender
Eu dependo de vocês
Em um grande mutirão
Sonho em ser resgatado
Me chamam Rio Salgado
Um nome por tradição
Na profundeza dos vales
Muitos gemidos ressoam
A superfície agoniza
Inúmeros gritos ecoam
Me falta oxigênio
Lentamente estou morrendo
Não consigo respirar
Se coloquem em meu lugar
E venham em meu socorro
Não permita que eu morra
E nem fique aqui caído
Minha vida é suas vidas
E suas vidas é minha vida.
Zé Santana ..
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